"Esta matéria é uma homenagem póstuma a Ricky Husbands, verdadeiro cidadão do mundo"
As pontes entre o reggae de Salvador e da Jamaica estão cada vez mais fortes e profundas. Ricky Husbands, vocalista da banda Irie Positive Band, que também é tecladista, e Sergio Cassiano, vocal e guitarrista da banda Adão Negro são exemplos perfeitos das duas mãos dessa via. Husbands, já morou muitos anos vivendo em algumas partes do globo (Guiana Britânica, Suriname, Jamaica, Estados Unidos e Brasil) e Cassiano fez a sonhada viagem dos sonhos de qualquer “reggaeiro”: conhecer a Jamaica e sua mandinga no quesito reggae.
As pontes entre o reggae de Salvador e da Jamaica estão cada vez mais fortes e profundas. Ricky Husbands, vocalista da banda Irie Positive Band, que também é tecladista, e Sergio Cassiano, vocal e guitarrista da banda Adão Negro são exemplos perfeitos das duas mãos dessa via. Husbands, já morou muitos anos vivendo em algumas partes do globo (Guiana Britânica, Suriname, Jamaica, Estados Unidos e Brasil) e Cassiano fez a sonhada viagem dos sonhos de qualquer “reggaeiro”: conhecer a Jamaica e sua mandinga no quesito reggae.
De onde vem essa raiz “reggaeira”?
Admitindo Gilberto Gil como o pioneiro do reggae no Brasil, Husbands afirma que para ele, 80% do reconhecimento inicial do ritmo em Salvador se deve à afinidade primordial do atual ministro da cultura com o estilo de música da Jamaica, e sua irreverência ao colocá-lo em prática numa sociedade altamente tradicional e aversa ao que não se encaixava nos seus padrões em plena ditadura militar. Segundo Husbands, Gilberto Gil foi corajoso ao trazer para o Brasil da época, as influências de Bob Marley, que era um homem que lutava contra formas de opressão e preconceito no seu país e no mundo. Sergio além de dar a Gil todo o seu mérito, aponta o momento pelo qual passava o mundo: Revolução Feminina afrontado a sociedade patriarcal, Martin Luther King e suas idéias, dentre outros eventos e personalidades que chacoalhavam as estruturas sociais da época. Para explicar a raiz “reggaeira”, invoca a relação entre identidade e identificação: não importa mais onde nasce o cidadão, mas sim o que ele encontra no mundo a sua volta. Isso sim forma a personalidade. Um reflexo positivo da controversa globalização. As sementes haviam sido plantadas e sua germinação impossível de ser interrompida. Sendo assim os soteropolitanos têm uma relação de mais de 30 anos com o reggae e suas idéias.
Primos não tão distantes...
Assim como na Jamaica, Salvador exibe uma semelhança quanto à parcela da população que aprecia o reggae. As camadas menos favorecidas nele encontram uma forma de protestar, conscientizar e expor sua condição de vida. Nos festivais Tributo a Bob Marley e República do Reggae realizados no Wet´n Wild, na Paralela, é comum superar a expectativa de mais de 25 mil pessoas por edição. Todas ávidas pelas performances de artistas locais, nacionais e internacionais. Fato que chama a atenção de Sergio “... os jamaicanos que vêm pra cá me dizem que não têm esse público em shows na Inglaterra...“. A maioria dos admiradores vem do subúrbio, quebra a barreira do idioma (inglês), faz coro nas canções, executa coreografias e leva consigo gigantescas bandeiras para ovacionar seus ídolos e demonstrar suas opiniões. Ambos acreditam que tudo é devido ao empenho do falecido rei do reggae Bob Marley, em passar mensagens de luta, justiça e liberdade durante sua carreira, sendo essa postura replicada por muitos dos seus admiradores, quer fãs ou músicos. E já é cada vez mais freqüente a presença destes ídolos na maior festa popular do planeta: o carnaval. Trios fazem os percursos com cantores e bandas inteiras se revezando perante as câmeras, para milhões de pessoas. Mas Sergio enfatiza: “... sou apaixonado pelo carnaval, pela tragicomédia do Pierrô, Arlequim e da Colombina, mas devemos botar os pés no chão (...), nenhum estilo musical do mundo que não tenha vindo da Inglaterra e/ou dos EUA se tornou uma música ouvida no mundo todo a não ser o reggae...”. Esse fato mostra sua importância para a cultura mundial.
Para onde vai?
Sobre o reggae feito aqui e na Jamaica, Husbands é categórico: “... o reggae é uma coisa só. Não importa se é feito na Califórnia, Brasil ou Jamaica (...) mas o reggae de Salvador é autêntico. Diferente do que é feito no resto do Brasil e no mundo...”; afirma. Ele já teve a chance de participar das cenas de Brasília, Rio de Janeiro, São Luis do Maranhão e Salvador onde vive e tem duas filhas “... uma delas faz backing vocals na minha banda, a Irie Positive Band“, completa com orgulho.
Apesar de todo esse reconhecimento e do advento da internet, que proporciona a divulgação de artistas independentes de qualquer parte do mundo através de sites especializados, e das ferramentas de comunicação online, a cidade ainda encontra dificuldades para exportar seus representantes, apesar de fazê-lo muito bem. Se encontra mais na posição de reduto do que uma vitrine iluminada para o caminho inverso. Bandas de outras partes do Brasil a exemplo de Cidade Negra (RJ) e Tribo de Jah (MA), têm seus trabalhos em mais evidência fora das nossas fronteiras. A exceção cabe a banda Adão Negro que pisou em solo jamaicano, lançou um álbum produzido pelo também jamaicano Clive Hunt, e está preparando um DVD que será gravado ao vivo em 2008. Há mais de dez anos na estrada, a Adão Negro desponta dentre outros grupos do gênero, por transitar entre “peões e playboys”, e já foi visto com desconfiança por estes dois lados da sociedade. A personalidade forte do grupo e suas idéias bem fundamentadas superaram essas barreiras que insistem em atrasar o interatividade social.
Apesar de todo esse reconhecimento e do advento da internet, que proporciona a divulgação de artistas independentes de qualquer parte do mundo através de sites especializados, e das ferramentas de comunicação online, a cidade ainda encontra dificuldades para exportar seus representantes, apesar de fazê-lo muito bem. Se encontra mais na posição de reduto do que uma vitrine iluminada para o caminho inverso. Bandas de outras partes do Brasil a exemplo de Cidade Negra (RJ) e Tribo de Jah (MA), têm seus trabalhos em mais evidência fora das nossas fronteiras. A exceção cabe a banda Adão Negro que pisou em solo jamaicano, lançou um álbum produzido pelo também jamaicano Clive Hunt, e está preparando um DVD que será gravado ao vivo em 2008. Há mais de dez anos na estrada, a Adão Negro desponta dentre outros grupos do gênero, por transitar entre “peões e playboys”, e já foi visto com desconfiança por estes dois lados da sociedade. A personalidade forte do grupo e suas idéias bem fundamentadas superaram essas barreiras que insistem em atrasar o interatividade social.
O futuro...
Segundo Husbands o futuro está cheio de oportunidades para a nação reggae aqui estabelecida. “... Jimi Cliff me deu a oportunidade (ele acompanhou seu colega jamaicano como backing vocal por sete anos) aqui em Salvador e eu agarrei”. Expandiu sua carreira estagnada no Suriname devido a falta de perspectivas, encontrando aqui um mercado cheio de pontes para outros maiores ainda. “... quem vem de fora e vai viver em outra cultura/sociedade, enxerga mais claramente as oportunidades...”, diz. Sérgio observa que Salvador já está começando a exportar sua estética reggae para fora do país. Na vanguarda, prepara um CD todo em inglês que será veiculado na Califórnia. Cassiano atenta para o fato de que o futuro do reggae em Salvador é promissor e depende das atitudes e profissionalismo de produtores, músicos, veículos de comunicação e público.