Seja bem vindo(a)!!

Este blog é mais uma prova da força do reggae em Salvador e no mundo. Este humilde repórter vem através de mais esta ferramenta de comunicação, publicar tudo que puder para aumentar ainda mais o poder de expressão deste ritmo que se tornou um dos redutos de protestos sociais e estandartes da paz!

Até mais,
João "Jah-Ba" Barreto.

quarta-feira, 28 de novembro de 2007

Iniciativa e atitude. "Reggae eletrônico" balança a cidade

A INTERVENÇÃO:
Uma tarde diferente foi o que presenciei quando me predispus a fazer uma apuração da última edição do ano do movimento que ganha cada vez mais corpo nas ruas da cidade: o Mutirão Mete-Mão, promovido pelo MiniStéreo Público em parceria com a Zero Sete Um Crew. O primeiro é um grupo peculiar do cenário de música reggae de Salvador enquanto que o outro faz parte do universo do graffiti (estilo de arte de rua, que ganha cada vez mais força na nossa cultura). Composto por um grupo de dj´s e vocalistas, o MP faz do dub (vertente eletrônica da música reggae, daí dj´s e vocais rápidos e ritmados) e suas variações suas principais formas de expressão. Surgido em 2005 o MP é formado por seis integrantes quatro dj´s (chamados selectahs), dois vocais (chamados toasters) além de um técnico de som, peça fundamental para que tudo dê certo: Dudub (Roots Reggae, Dub e Dancehall), Pureza (New Roots e Ragga), Raiz (Dancehall e Ragga), DfrenSS (Ragga-JuNgle), Russo e Fael 1. O técnico de som se chama Regivan. Para eles o dia começou cedo, já que a festa estava prevista para ser iniciada às 10h da manhã e só foi terminar pouco após as 20h. Impressionado? Pois é... muito sol na cabeça, muita energia positiva e cultura das mais diversas formas acontecendo ao mesmo tempo: música, dança, graffiti, intervenções circenses (palhaços, malabares -vídeo no final da matéria) e improvisos vocais feitos na hora, além da Esquadrilha da Fumaça que se apresentava na orla e volta e meia, fazia suas perigosas acrobacias para o nosso “camarote” em frente à Igreja de São Lázaro, no local de mesmo nome. Chegando por volta das 15h (impossível comparecer mais cedo devido a um curso de extensão que não aconteceu, mas essa é outra história...), me deparei com a galera mais fiel ao som do grupo e grafiteiros deixando sua marca nas paredes dos bares que permitiam. Obras feitas na hora é só pra quem pode! E o clima melhorava cada vez mais com a chegada das tribos que já são leais seguidoras desse mutirão: rappers, skatistas, os já citados grafiteiros, músicos da cena, artistas de rua, universitários, estrangeiros e muito mais gente. Mas o que chamou a atenção do nosso fotógrafo (que sou eu mesmo...) foram esses caras que transformam paredes vazias em painéis cheios de arte. Através de trabalhos solo ou em conjunto com as crews (nome dado aos grupos de grafiteiros, cada um com nome e identidade própria). Ao contrário do que se pode pensar, a olho nu não enxerguei rivalidade entre eles e sim muita união expressada nos grafites realizados.


Entre eles estavam: RB´K, Limpo T. U., Bigode, Saint, AC, e o próprio Ras Fael 1º. Todos fazendo arte espontânea.

AS CULTURAS:
Segundo Dfrenss, Dudub observou que o Sound System tinha futuro nas ruas de Salvador devido ao caráter festeiro do soteropolitano e suas tradições envolvendo festas de largo. Essa comparação deu força para a criação do "sistema de som perambulante" que o MP luta para levar a comunidades como Saramandaia, Bairro da Paz, Garcia, o já citado São Lázaro dentre outras que fizeram parte do itinerário do grupo. O termo luta é devido à falta de apoio quando nos referimos ao trabalho que o MP vem realizando ao levar música e arte de graça para várias . "Ninguém ganha dinheiro com a música..." afirma DfrenSS. Dá pra ver que em geral o Mutirão Mete-Mão é bem aceito nas comunidaddes nas quais chega de assalto.
A música brasileira é parte mais que integrante das influências deles, e fará parte das suas performances em breve, seja em samba reggae, samba ou o que mais vier à cabeça. Sendo o objetivo deles estarem presentes em festas populares, essa mistura será de grande valia. Gilbero Gil, Bob Marley, Peter Tosh são só alguns nomes que podem entrar nesse caldeirão cultural. "(...) a galera evoluiu nessa pesquisa, cada um pesquisando uma coisa diferente..." observa DfrenSS. Ainda ele, o acesso à informação está cada vez maior e assim como eles têm mais chances de pesquisa e divulgação das suas ações, o público também tem mais canais para saber o que está rolando de bom e inusitado na cidade "... a periferia tem mais acesso à internet (...) basta você querer buscar informação..." atesta o selectah.
Outro ponto marcante são os já citados improvisos, um dos pontos altos do Mutirão. A galera que comparece tem a oportunidade de curtir representantes do rap e ragga; e não importaria se fossem repentistas, pois a política do grupo é clara: a arte é livre e espontânea e essa prática de deixar o espaço aberto para intervenções, gera emoções e momentos únicos para integrantes do movimento e audiência, algo mais que gratificante para o MP. Onde será que pode chegar tal miscelânea? Que artistas vão surgir dessas manifestações no futuro? Com certeza estamos assistindo o nascimento de uma nova tendência em Salvador. Pioneirismo e atitude são as palavras de ordem. Fayaka!!




segunda-feira, 26 de novembro de 2007

Em breve...

Me sinto na obrigação de dar uma satisfação aos leitores do Notícias Reggae e informar que estou preparando uma nova matéria para esta semana! Aguardem e fiquem ligados pois diz respeito às novas manifestações do reggae em Salvador! Uma mistura inusitada que vem dando muito certo!
Abraços!

segunda-feira, 19 de novembro de 2007

Ponto de Equilíbrio: mensagens de paz, amor e respeito. Rastafári!


Hélio Bentes, vocalista da banda Ponto de Equlíbrio, nasceu no Rio de Janeiro em 19/05/1981 e tem uma herança musical forte. Sua mãe era firmada na umbanda e seu pai era crooner de uma banda e costumava gravar o filho cantar. Em 1997, sem abandonar a veia artística, tentou a vida em diferentes empregos enquanto se aventurava na carreira de Mc (termo usado para definir cantores de rap). Nessa época conheceu artistas do gênero como Mano Brown, Ed Rock, Ice Blue e KL Jay e é muito grato a todos.
Começou a escutar reggae aos 14 anos e nunca mais parou. Em 1999 conheceu Ras André e através dele os outros integrantes da banda e com a filosofia rastafári integrada ao seu pensamento musical, começaram a compor algumas das suas principais canções com violões e bongôs e assim nascia a PDE, banda de reggae que está proclamando sua música ideológica aos quatro ventos. Nascido e criado no famoso bairro de Vila Isabel, ele tem no sangue o samba e balanço na voz. A equipe do Notícias Reggae (que no momento sou apenas eu...) compareceu à República do Reggae no último sábado - importante evento do calendário regueiro de Salvador - e conseguiu uma rápida entrevista para matar a curiosidade da nação regueira de Salvador e de até onde a internet alcançar:

João Barreto: Suas músicas não seguem um padrão radiofônico. De onde vocês acham que vem o sucesso de hoje?

Hélio Bentes: A palavra sucesso na verdade é um pouco complexa, pois o sucesso está nas pequenas grandes coisas. (pausa para fãs que entram à procura de fotos). A gente teve o princípio de que a música é baseada naquilo que a gente sempre quis, né? De fazer uma música reggae voltada pra as suas raízes, entendeu? Não que a gente não pudesse misturar com outras vertentes de música, porque o reggae nasce de diferentes influências de música e também com o tempo e como a gente tem essa música, como você disse, não radiofônica, e por a gente ouvir e tocar muito reggae de raiz, assimilar aquilo, né? Quem ouve uma música mais de raiz assim acaba sendo mais colecionador, acaba sendo bem fã daquela música ali mesmo e tal. Então a gente foi conquistando cada vez mais público, aquele público que gosta de reggae, novas pessoas que tavam começando a ouvir. O reggae da forma que a gente gosta de fazer é o reggae que da forma que muitas pessoas gostam de ouvir e hoje em dia essa expansão, essa força que o público tem, essa fidelidade que o público tem com a gente e que a gente tem com nosso público faz com que outras pessoas queiram conhecer a nossa música. Então o sucesso taí como eu digo. Nas pequenas grandes coisas. A gente vem sendo bem sucedido na forma de trabalhar, na forma de lidar com a música, com nosso público e vice-versa.

J.B: Então o sucesso vem da espontaneidade, na autenticidade do trabalho que vocês fazem? Vem da galera que realmente curte.

H.B: Isso!

J.B: São todos rastafári no grupo?

H.B: Olha... de coração eu posso dizer que são. A gente faz uma música rastafári. Algumas pessoas são ligadas ao rastafári pela música, entendeu? Com a música reggae sendo uma religião e como o reggae vem de rastafári ele é rastafári dessa forma. Eu e o Ras André que tá aqui agora, (que não quis se pronunciar... estava “na dele”) a gente faz parte de um grupo lá no Rio que se chama Congregação Niyabinghi Raiz Rastafári. A gente faz alguns encontros com tambor. Encontro religioso com toque que vem pra batida do coração africano. Retorno à África. E desse grupo também saem oficinas que auxiliam crianças e pessoas mais velhas, né? Desde o começo da banda que a gente é ligado com essa cultura rastafári, que tem muito a ensinar ao povo brasileiro.

João Barreto: Esta é a quarta vez que vocês vêm a Salvador. Alguma observação a respeito do povo ou da cidade ou foram passagens muito relâmpago?

H.B: Várias observações. Aqui chegaram as primeiras embarcações de navios negreiros. Aqui que tá concentrada a maior parte de afro descendentes do Brasil. Isso reflete muito na comida, na música, na forma de viver, na cultura, né? A gente observa que a cultura africana aqui de raiz iorubá é muito forte, e a gente tá tocando aqui pra esse público sentir a vibração verdadeira das nossas raízes. Iorubá mesmo, né?

J.B: É verdade. O que vocês acham do reggae da Bahia?

H.B: O reggae da Bahia tem muito a ensinar, né cara? O reggae da Bahia é muito bom. Como eu disse aqui tem muito afro descendente. A raiz do reggae é da Jamaica e também vem com essa mesma pegada. Temos aí o Edson Gomes e muitas bandas boas. O reggae daqui é autêntico.

J.B: Então o reggae da Bahia é bem visto lá fora?

H.B: Com certeza. E estar sendo bem aceito aqui na Bahia pelos outros músicos das outras bandas e pelo público pra gente é muito bom, muito importante. Gratificante.

J.B: É merecido vocês podem ter certeza disso. Vocês dão um grito importante pra música reggae. Como vocês enxergam o futuro do reggae no Brasil? Vocês que tão dando uma geral em cada canto do país...

H.B: Há um tempo atrás tava um modismo, muitas bandas aparecendo e tal. E agora tá ficando quem faz um reggae verdadeiro, quem veio pra ficar, não querendo desmerecer as outras coisas. É delicado falar disso, mas o que é verdadeiro é o que vai ficar mesmo e o que é falso é o que vai cair, e eu vejo que o futuro do reggae tá caminhando pra ficar cada vez mais fino, cada vez mais peneirado, então vai melhorar. Espero que melhore a qualidade musicalmente e espiritualmente.

J.B: Como a banda compõe?

H.B: Às vezes tem várias formas da gente compor, né? Como meu amigo Ras André (ainda no canto dele. Tranqüilão.) disse uma vez e costumo repetir: a inspiração tá no ar. Basta a gente ir catando, né? Em princípio é dessa forma. A gente pode estar tocando um groove e sair uma letra, ou uma viola, ou já letra feita e depois é só botar a música, a melodia. De diversas formas a gente compõe e faz as músicas. Ela chega pra gente.


J.B: Inspiração é a regra, o momento é o que diz, não é?

H.B: Isso. Exatamente.

J.B: A estrela de Davi é o símbolo da banda, não é isso? Qual a relação da banda com a Estrela de Davi?

H.B: A estrela de Davi que tem um ponto de luz no meio que representa o ponto de equilíbrio que é uma coisa que a gente tá buscando ainda. É o que a gente pode chamar de uma nova era que vai vir nas crianças que tão chegando agora, (...) uma nova informação que a gente quer passar pra essas crianças pra que a gente um dia possa encontrar esse ponto de equilíbrio, e a Estrela de Davi representa o que acontece em cima é o que acontece embaixo; o que acontece embaixo é o reflexo do que acontece em cima, né? Feminino, masculino, o bem e o mal. É o equilíbrio e o ponto no meio.

J.B: Alguma mensagem para os leitores da Notícias Reggae?

H.B: Minha mensagem principal é respeito. Respeito aos seus irmãos, porque a partir do respeito a gente pode começar a amar, né? Começar a ver a luz do próximo, não querer o mal de ninguém, né? Sempre querer o que é nosso, conquistando o nosso espaço, conquistando os nossos direitos, conquistando os nossos irmãos, amigos, né? Fazendo sempre o bem, querendo sempre a paz... e muita música no coração e espírito elevado.

J.B: Hélio, muito obrigado pela oportunidade! A galera do Notícias Reggae agradece bastante!

quarta-feira, 14 de novembro de 2007

Groundation: para eles música é Deus.

Respeito. Buscando inspiração para escrever esta entrevista inaugural deste blog, me deparei muitas vezes com essa palavra enquanto tentava esmiuçar o que aconteceu na apresentação da banda Groundation. Eles vieram e mostraram serviço, de maneira que superaram muitas das expectativas do público que compareceu para ver de perto uma das maiores bandas de reggae da atualidade.
Com muita energia e simpatia a trupe californiana fez o que muitos artistas internacionais não fazem, por falta de tempo ou paciência ou ambos: tocaram com vontade e à vontade. E é isso que chamo de respeito. Cada nota executada era um suspiro de algum fã. Muitos não conseguiam acreditar que aquilo estava acontecendo bem diante deles, já que lá estava a Groundation fazendo uma longa apresentação com direito a bis e muito, muito improviso por parte de todos os componentes. Tudo isso transformou a noite numa série de momentos especiais.
Este humilde repórter conseguiu um “furo” de reportagem ao recolher um depoimento em duas partes do próprio Harrison Stafford (veja trecho do vídeo abaixo) , vocalista da banda, em primeira mão e logo após a apresentação do dia 11/11/2007:

J. Barreto:
(Música alta ao lado do palco, fãs amontoados atrás de mim) Após tantas viagens tocando e colhendo informações sobre o reggae ao redor do mundo, qual você acha que é a posição desse tipo de música na cena internacional?

Harrison Stafford:
(Música continua... empurrões idem) Nós ainda temos muito trabalho a fazer (...) se você observar o meio ambiente, se você observar a política, a economia, o mundo vai ter que mudar. E o mundo vai ter que se voltar para a música que fazemos. Somos pequenos agora, mas seremos grandes no futuro! Posso sentir as coisas acontecendo!

J. Barreto:
Então a energia positiva está reinando dentro da música?

Harrison Stafford:
É como se a música fosse a última arma, se nos rendermos à música mundana estaremos condenados. Nós temos que manter a música viva. Quero dizer a música positiva, músicas que falam de mim e de você e a respeito de nossas vidas (...) é o tipo de trabalho que tentamos fazer com a Groundation! (...) falam muito sobre sua garota e seu dinheiro (...) a camisa que você compra (...). Você é um consumidor (...) nossa música não é para vender (...) é música livre (...)
!

Com estas palavras ele confirma que a energia que rola no palco não é encenação, e sim um comportamento natural de todos os integrantes do grupo. A toda hora é proclamada a frase "music is The Most High" que traduzida soaria como "música é o Altíssimo"... essa é a regra de inspiração do trabalho bem feito que eles realizam com composições que condenam a avareza, o egoísmo, a violência e outras facetas negativas da humanidade além de cantarem sobre trechos bíblicos e histórias de vida e coragem. A Groundation chegou para ficar no cenário de música reggae no Brasil.

Por: João Barreto.